Medicina Alternativa e Complementar em Distúrbios Gastrointestinais: Evidências Científicas Atuais

A medicina alternativa e complementar (MAC) tem ganhado destaque como abordagem coadjuvante no manejo de distúrbios gastrointestinais (DGIs), especialmente diante da crescente prevalência de condições como gastrite, síndrome do intestino irritável (SII), doença inflamatória intestinal (DII) e dispepsia funcional. Diversas substâncias naturais têm demonstrado eficácia clínica, com respaldo em estudos randomizados e revisões sistemáticas.

1. Fitoterápicos e Ervas Medicinais

• Hortelã-pimenta (Mentha piperita)
  Utilizada principalmente na SII, a hortelã-pimenta possui ação antiespasmódica sobre a musculatura lisa intestinal. Cápsulas entéricas demonstraram reduzir dor abdominal e distensão.
  • Indicação: Síndrome do intestino irritável (SII), dispepsia funcional.
  • Dose recomendada: 180–225 mg de óleo essencial em cápsulas entéricas, 2 a 3 vezes ao dia.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Azia, náuseas, cefaleia.
    • Irritação gástrica se não for em cápsula entérica.
    • Em doses excessivas: hepatotoxicidade e broncoespasmo em indivíduos sensíveis.
• Gengibre (Zingiber officinale)
  Com propriedades antieméticas e anti-inflamatórias, o gengibre é eficaz na redução de náuseas e melhora da motilidade gástrica, sendo útil em dispepsia funcional.
  • Indicação: Náuseas, vômitos, dispepsia.
  • Dose recomendada: 1–2 g/dia em pó ou cápsulas; até 4 g/dia em casos agudos.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Azia, diarreia, irritação gástrica.
    • Potencial interação com anticoagulantes (risco de sangramento).
• Camomila (Matricaria chamomilla)
  Atua como anti-inflamatório e antiespasmódico, com efeitos positivos na redução de dor abdominal e distensão em pacientes com DGIs leves.
• Cúrcuma (Curcuma longa)
  A curcumina, seu principal composto ativo, apresenta efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes, com benefícios em DII e gastrite associada à Helicobacter pylori.
  • Indicação: Doença inflamatória intestinal (DII), gastrite.
  • Dose recomendada: 500–2000 mg/dia de curcumina padronizada.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Náuseas, diarreia, aumento de cálculos biliares.
    • Pode interferir na absorção de ferro e medicamentos anticoagulantes
• Olmo-escorregadio (Ulmus rubra)
  Forma uma camada mucilaginosa protetora sobre a mucosa gastrointestinal, sendo útil em gastrite e refluxo.
• Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia)
  • Indicação: Gastrite, úlceras gástricas.
  • Dose recomendada: Infusão de 1–2 g da folha seca, 2 a 3 vezes ao dia.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Hipotensão, sonolência, irritação gástrica.
    • Contraindicado na gestação devido à ação uterotônica.

2. Suplementos Alimentares

• Probióticos
  Cepas como Lactobacillus rhamnosus GG e Bifidobacterium infantis demonstraram eficácia na modulação da microbiota intestinal, com melhora de sintomas na SII e DII.
• Glutamina
  Aminoácido essencial para a integridade da mucosa intestinal, com evidências de benefício na DII e enteropatias inflamatórias.
  • Indicação: DII, enteropatia inflamatória.
  • Dose recomendada: 10–30 g/dia, divididos em 2–3 doses.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Desequilíbrio ácido-base, sobrecarga renal.
    • Contraindicado em pacientes com insuficiência hepática grave.
• Ômega-3 (EPA/DHA)
  Suplementação com ácidos graxos poli-insaturados mostrou redução da inflamação intestinal em pacientes com colite ulcerativa.
  • Indicação: Colite ulcerativa, doença de Crohn.
  • Dose recomendada: 2–4 g/dia de EPA/DHA combinados.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Diarreia, sangramentos, aumento de LDL.
    • Interação com anticoagulantes e anti-hipertensivos.
• Vitamina D
  Deficiências estão associadas à piora da DII. A suplementação pode modular a resposta imune e reduzir a atividade inflamatória.
  • Indicação: DII, disbiose intestinal.
  • Dose recomendada: 1000–4000 UI/dia, conforme níveis séricos.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Hipercalcemia, nefrocalcinose, confusão mental.
    • Doses acima de 10.000 UI/dia por tempo prolongado são tóxicas.

3. Eletrólitos e Hidratação

• Sais de reidratação oral (SRO)
  Fundamentais no manejo de diarreias agudas, especialmente em crianças e idosos, os SRO repõem sódio, potássio e glicose, prevenindo desidratação e acidose.
• Magnésio
  Útil em constipação funcional, o magnésio atua como laxante osmótico e melhora o trânsito intestinal.
  • Indicação: Constipação funcional.
  • Dose recomendada: 250–500 mg/dia de óxido ou citrato de magnésio.
  • Efeitos adversos em altas doses:
    • Diarreia osmótica, hipotensão, fraqueza muscular.
    • Risco de toxicidade em insuficiência renal.

Conclusão

A integração de terapias complementares à prática gastroenterológica convencional pode oferecer benefícios significativos, especialmente em pacientes com intolerância a medicamentos ou em busca de abordagens mais naturais. A escolha deve ser baseada em evidências científicas robustas, respeitando a individualidade e segurança do paciente.

Referências

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